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A entrevista terminou e eu voltei para casa com a promessa de
que na segunda-feira teria a resposta se seria ou não
contratado para trabalhar. Nem saí naquele final de semana, pois
estava ansioso e sabia que os próximos dois dias seriam uma
eternidade. Passou o dia de sábado e finalmente estava eu em
pleno domingo assistindo ao meu programa de esportes favorito
quando um barulho vindo da porta da sacada me chamou a atenção.
Resolvi conferir o que era e acabei me deparando com uma
Libélula que havia entrado no apartamento, porém não conseguia
encontrar o local da saída.
Penalizado com a situação, resolvi auxiliar o inseto para que
encontrasse o caminho por onde havia entrado e por fim a sua
liberdade. Puxei a cortina oferecendo mais espaço, mas para a
minha surpresa a Libélula se complicou e acabou entrando atrás
da porta de vidro deslizante que separa a sala da sacada onde ficou presa. Desesperada para sair daquele local e
batendo as asas freneticamente a Libélula acabou por descer até
a parte de alumínio onde o vidro é fixado, ficando mais presa
ainda.
A minha atitude de imediato foi buscar alguma ferramenta para
ajudar a Libélula a se livrar da confusão em que tinha se metido
e o meu pensamento foi usar uma régua, pois era fina e
podia perfeitamente entrar pelo vão da porta de vidro e
suspender a Libélula até o local onde ela pudesse sair. Fui até
o quarto, peguei a régua e iniciei a minha primeira tentativa
de livrá-la. No começo pareceu funcionar, pois a Libélula já
cansada subiu na régua e foi fácil conduzi-la até uma altura que
fosse suficiente para resgatá-la. Assim que foi possível, puxei
a porta para trazer a Libélula para mais perto da saída, mas
infelizmente ela recuperou suas forças, começou a bater as
asas e caiu no pior lugar onde não poderia ficar que era a parte
estreita de alumínio que dá sustentação as lâminas de vidros. Decepcionado, pensei em remover a porta, mas uma rápida
olhada me fez descartar imediatamente a ideia, primeiro porque
não havia tempo, segundo porque era impossível mesmo, aí pensei:
“Tenho que improvisar”.
Comecei a me preocupar porque apesar de ser um simples inseto,
eu não queria que ele morresse naquele local sabendo que poderia
ajudá-lo. Pensei rapidamente e me lembrei que eu havia guardado
um arame o qual utilizo para desentupir canos. Imediatamente fui
até a despensa, desenrolei o arame, peguei um alicate e cortei
um pedaço que fosse suficiente para alcançar a Libélula. Ao
cortar o arame, a ponta ficou afiada e perigosamente cortante,
então pensei que se usasse aquele pedaço de arame do jeito que
estava, poderia machucar a Libélula no momento em que estivesse
fazendo o resgate. Voltei ao quarto, peguei uma fita durex e
isolei a extremidade do arame que iria ter contato direto com a
Libélula, diminuindo assim o risco de feri-la.
Minha irmã quando viu em minhas mãos a rústica ferramenta, disse
que eu iria estraçalhar a Libélula no momento que estivesse
puxando-a para a saída. Isso realmente poderia acontecer, mas
não havia tempo, pois quanto mais o inseto se debatia, mais ele
corria o risco de perder uma das asas, aí, mesmo que eu
conseguisse obter sucesso no resgate, de nada iria adiantar
porque a Libélula não poderia mais voar.
Então peguei o arame, me posicionei de uma forma que pudesse
vê-la e iniciei a operação suspendendo a Libélula com o maior
cuidado possível, ao mesmo tempo em que isolava com o arame o
local onde ela havia caído para impedir que caísse novamente e
inviabilizasse o resgate.
O tempo corria contra mim e comecei a temer pelo insucesso da
operação, mas mesmo que essa possibilidade pudesse existir, não
desisti e continuei acreditando que seria possível. Suando
bastante e já com as pernas doendo por me manter muito tempo na
mesma posição, comecei enfim a ter sucesso. O planejamento e as
decisões que eu tinha tomado rapidamente, foram fundamentais
para o sucesso da operação e começaram a surtir efeito, e depois
de algumas tentativas, finalmente consegui que o inseto se
estabilizasse em um local de mais fácil acesso. Após essa fase,
pude utilizar a minha primeira ferramenta que era a régua.
Solicitei a ajuda de minha irmã para que puxasse a porta o
máximo possível para que a Libélula tivesse mais espaço para se
deslocar. E assim ocorreu: Primeiro a Libélula liberou a cabeça,
em seguida as asas e finalmente voou meio zonza para fora da
porta até a sacada, para em seguida se recuperar e alçar o seu
vôo rumo à liberdade.
Aquilo me deixou feliz e orgulhoso, porque embora fosse um
simples inseto, mereceu a minha atenção e eu não podia de modo
algum ficar passivo ao seu sofrimento e nem tão pouco deixar de
empreender uma tentativa de livrá-la da armadilha que tinha se
metido. Eu sempre fui fascinado por elas e para quem não sabe, a
Libélula é aquele inseto que parece um helicóptero e me faz
lembrar os meus tempos de criança quando eu ficava tempo
observando o comportamento delas e seus vôos acrobáticos sobre
as águas.
A história que eu acabei de contar mesmo que pareça banal e sem
importância, teve um significado para mim e me fez pensar qual a
lição que eu poderia tirar de tudo isso. O ensinamento que eu
tirei é que até as pequenas ações são importantes, porque
precisamos delas para promover ações maiores, por isso
precisamos praticar as boas ações em todos os momentos de nossas
vidas, começando com a nossa família, depois com nossos vizinhos
dizendo pelo menos um bom dia, cedendo um lugar para um idoso,
oferecendo uma preferência no trânsito, respeitando as filas,
procurando entender os nossos colegas de trabalho e aceitar
todas as diferenças incondicionalmente.
A Segurança do Trabalho como sabemos não permite improvisos e
deve ser pautada pelas leis, normas e portarias que regem o
setor, mas a moral da história aqui é outra, nós precisamos
lançar mão de todas as ferramentas possíveis para preservar a
vida e não desistir jamais de tentar, mesmo que algo pareça sem
importância para uns, pode ter um valor inestimável para outras
pessoas. Não são todos os dias que estamos bem, mas se pensarmos
positivamente desde as primeiras horas do dia e promovermos pelo
menos um dia de gentilezas, pode ter certeza que teremos muito
mais a comemorar do que para se arrepender no final de um dia
duro de trabalho. Quem sabe não há uma Libélula na sua vida
esperando por um gesto de boa vontade da sua parte. PENSE NISSO!
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