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- Capítulo I -

 

 

O Técnico e o Jardineiro

 

Alguns fatos que ocorreram na minha primeira entrevista de emprego eu jamais esquecerei. Já no ônibus metropolitano 2237, no caminho para a empresa, entre um sacolejo e outro, fui imaginando como seria o local, as pessoas que lá trabalhavam, se me sairia bem, me questionando se estava preparado para assumir aquela responsabilidade e se havia feito cursos adicionais suficientes que me dariam suporte para desenvolver um bom trabalho, caso fosse contratado, enfim, essas coisas que a gente fica pensando quando não se tem nada para fazer. Muito se passava pela minha cabeça, como insegurança, medo e incertezas. Era um turbilhão de pensamentos e para piorar, aquele incômodo frio na barriga. Claro que isso era fruto da minha ansiedade e eu sabia que assim que fizesse a entrevista tudo passaria.

 

Ao chegar, me dirigi a portaria e fiz todo o processo de identificação como convém em uma empresa que prima pela segurança. Assim que consegui a liberação do porteiro e devidamente apresentado através do interfone, subi até o local onde aguardaria para falar com o pessoal do recrutamento e seleção.

 

Quando subia a rampa que dá acesso a recepção, um barulho chamou a minha atenção, me virei para ver de onde vinha e observei que se tratava do jardineiro da empresa que cuidadosamente aparava um imenso gramado com uma roçadeira manual, bem barulhenta por sinal. Ferramenta típica para pequenos aparos e arremates, mas totalmente inadequada para uma área tão grande. A curiosidade de prevencionista falou mais alta e eu me aproximei daquele senhor com a pele queimada pelo sol, e perguntei:

 

- Tudo bem?

 

O homem levantou a cabeça e respondeu:

- Sim, está tudo bem! Voltando o olhar para a grama que estava sendo cortada.

 

- Está quente hoje, não? Perguntei,

 

Dessa vez sem levantar a cabeça o Jardineiro respondeu:

- Sim, está.

 

Embora as respostas do Jardineiro fossem curtas como de alguém que não tivesse muito interessado na conversa, eu insisti, voltando a perguntar:

- Não é uma ferramenta pequena para uma área tão grande?

 

O Jardineiro parou o que estava fazendo, desligou a roçadeira, levantou a cabeça, secou o suor do rosto com a manga da camisa, e respondeu:

- É sim, mas é a única que me deram, então tenho que me arranjar com o que tenho.

 

Aproveitando a deixa, perguntei:

- Quantas horas o senhor trabalha aqui, nesse sol quente?

 

O Jardineiro respondeu:

- O dia todo.

 

- O Senhor recebe algum protetor solar?

 

- Não, mas mesmo que me dessem, acho que não usaria.

 

- Mas o protetor solar é importante para prevenir o câncer de pele. O senhor não tem receio disso?

 

- Tenho não! Trabalhei muito tempo na roça e naquela época a gente nem ouvia falar disso. Acho que meu corpo já se acostumou.

 

Naquele momento, as aulas do Professor Augusto sobre a NR-21 - Trabalhos a Céu Aberto e das consequências das radiações solares, fizeram o maior sentido para mim. A posição em que o Jardineiro desempenhava suas funções, me fez lembrar da NR-17 – Ergonomia. Quando saímos do curso, talvez pelo frescor do conteúdo técnico que permanece na nossa cabeça, procuramos enxergar em tudo que presenciamos algum ponto que esteja em desacordo com o que aprendemos e aí tentamos buscar soluções. Isso é bom porque ajuda a nos manter ligados no que foi dito em sala de aula.

 

Certo dia, andando pela rua, eu vi uma mulher projetando boa parte do corpo para fora ao limpar a janela de um apartamento. Fiquei pensando no risco que a pobre mulher estava correndo e do perigo de uma queda, que naquelas circunstâncias poderia ser fatal ou incapacitá-la para o resto da vida.

 

Eu me lembrei que, para trabalho em altura superior a 2 metros, é obrigatório o uso do cinto de segurança tipo paraquedista, além de outros EPI´s. Embora seja querer demais de um empregador doméstico, o mínimo que podemos fazer é orientar os empregados e não expô-los a riscos desnecessários e isso não é difícil de fazer nessa situação, basta abrir a janela só um pouco, o suficiente para que a pessoa possa executar o serviço sem correr perigo.

 

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