O hospital está
entre os lugares mais indesejados pelas pessoas, mas
infelizmente algumas vezes é inevitável que freqüentemos esses
locais – no meu caso, eu fui acompanhar a minha esposa que
sofreu uma perda de consciência e caiu da própria altura,
cortando o queixo e o lábio inferior. Casos como esses são
situações em que não podemos abrir mão de um atendimento
hospitalar, pois é necessário suturas em caso de cortes e exames
para investigar os motivos que vieram a provocar o desmaio.
Uma semana antes desse
episódio minha esposa já havia caído de uma cadeira enquanto
limpava um armário no quarto – nessa ocasião fomos a um hospital
ortopédico e após uma radiografia, não foi constatado fratura no
pé, área mais atingida, mas por precaução o Ortopedista fez uma
tala para evitar forçar a pisada - indicou também o uso de muletas e
antiinflamatório, além do retorno após uma semana para
avaliação. Exatamente no dia marcado para voltar ao Ortopedista
minha esposa sofreu o desmaio que motivou a nossa ida ao
hospital.
Enquanto aguardávamos, fiquei
observando as pessoas que chegavam ao pronto socorro – se existe
um local onde não há falta de clientes, pode apostar, esse lugar
é um hospital. É incrível como o número de pessoas não diminui
um segundo sequer - o PS de um hospital é movimentado o tempo
todo.
Como não há o que fazer a não
ser esperar pelo atendimento, acabamos por presenciar todas as
ocorrências do dia e os dramas familiares daqueles que por um
infortúnio da vida acabaram sendo vítima do acaso ou da própria
imprudência.
Estar no Pronto Socorro de um
hospital é ficar cara a cara com diversas situações de acidentes
que ocorre com a população, como os acidentes domésticos,
automobilísticos, de trabalho e daqueles que de tão
absurdos, custamos acreditar que acontecem, veja alguns:
– Um dos casos que me chamou a
atenção foi de uma moça que chegou com a cabeça toda enfaixada -
o motivo: a porta traseira do carro bateu em sua cabeça enquanto
ela punha as compras de supermercado no porta-malas. Esse
acidente lhe custou cinco pontos na cabeça.
- Outro caso foi de um
acidente de trabalho ocorrido com o filho do dono de uma
serraria – como o atendimento estava demorando, eu
aproveitei a oportunidade para conversar com o jovem – segundo o
rapaz, ele estava fazendo um reparo quando uma das
ferramentas caiu e bateu na sua sobrancelha esquerda, muito
próximo ao olho, causando um pequeno corte que precisou de cinco pontos
para suturar.
Procurei saber dos detalhes e
de como a Segurança do Trabalho era tratada na empresa - embora
tenha ocorrido o acidente, o rapaz disse que a empresa, que
coincidentemente é de seu pai, fornece os equipamentos para a
segurança de todos os empregados, inclusive a dele.
Assim como ocorre em quase
todos os casos de acidente, a falta de uso do EPI agravou a
situação – se o rapaz tivesse utilizando um capacete com aba
frontal, por exemplo, a ferramenta que caiu poderia ter sido
desviada para longe da sua cabeça evitando o ferimento - “Era apenas alguns
minutos, achei que nada iria acontecer...”, ele disse –
“Mas você poderia ter perdido o seu olho”, retruquei - ele
balançou a cabeça afirmativamente.
- Presenciei também um outro
caso de acidente de trabalho, só que este envolveu dois
empregados de uma empresa da construção civil que despencaram de
uma altura de sete metros enquanto trabalhavam sobre um andaime fachadeiro. Embora os
acidentados estivessem conscientes e
orientados, reclamavam de muita dor, esse acidente inclusive foi
notícia na TV local onde eu pude constatar mais tarde pela
reportagem a precariedade do
andaime.
- Por fim, um menino todo
arrebentado e ensangüentado gritava de dor bem do lado da maca
onde minha esposa estava deitada – pelo relato da mãe que o
acompanhava, o garoto estava brincando com seu skate juntamente
com um colega e mesmo a rua sendo larga o suficiente para
efetuarem as manobras, acabaram se chocando de frente. Pior foi
ver que apesar da dor o menino só foi atendido quando vomitou -
sintoma característico de alguém que pode ter sofrido um
traumatismo craniano. Rapidamente os enfermeiros chegaram e
tomaram conta da situação.
Descrever um dia no PS não é
difícil, pois acompanhamos passo a passo não só o sofrimento e o
lamento das pessoas, mas o diálogo travado entre os pacientes e
os enfermeiros que tentam entender o que ocorreu para melhor
encaminhar o atendimento. Uma das preocupações recorrentes na
triagem do PS é saber se a pessoa bateu a cabeça, desmaiou,
vomitou, que tipo de medicamento toma com frequência, se já teve
episódios de desmaios anteriores, etc. O atendimento nem sempre
é rápido, normalmente se espera muito, salvo aqueles casos
gravíssimos em que a intervenção médica é fundamental para
manter a vida do paciente – se o acidentado estiver orientado e
sem grandes complicações, há um protocolo de atendimento que
inclui um tempo de observação para só depois tomar as
providências necessárias.
Voltando ao caso do acidente
doméstico ocorrido com minha esposa, a esperança de ser um caso
de rápida solução acabou com o passar do tempo – só
para se ter uma idéia, nós chegamos ás 10 horas da manhã e
somente 12 horas depois o médico indicou que seria necessário
interná-la para melhor avaliar a situação, isso após ter
sido feito radiografia do maxilar, ressonância magnética,
tomografia computadorizada e eletrocardiograma.
Saldo final
do acidente:
Fratura do côndilo mandibular, perda do dente canino inferior
esquerdo, sutura dos cortes e uma semana de internação. Depois
da alta, dieta líquida e pastosa, suplemento alimentar até
recuperar o poder de mastigação e fisioterapia como
complemento do tratamento.
Especialistas envolvidos:
Neurologista, Cardiologista, Buco Maxilo, Nutricionista,
Fisioterapeuta e Dentista.
Diagnóstico final:
Síncope.
Outras indicações:
Utilização de um Router por 24hs, para monitorar as batidas do
coração.
Às vezes o diagnóstico médico
nos deixa frustrado – nesse caso ficou resumido em uma palavra:
Síncope. Mesmo após os exames constatarem que estava tudo bem
com sua saúde, não deixei de me sentir frustrado com o
resultado - Por que isso ocorreu afinal de
contas? Foi aí que surgiu uma possibilidade plausível – poderia
ter havido uma interação de medicamentos, já que uma semana
antes do desmaio ela utilizou um antiinflamatório fortíssimo
para resolver o problema no pé. Apesar de ser uma das
possibilidades, me agradou muito mais do que um nome técnico.
As conseqüências de um
acidente seja ele de que natureza for, são inimagináveis e
envolve muitos profissionais em torno de um único caso. Não é a
toa que os acidentes custam caro ao país – são horas e horas
perdidas.
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