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Estava eu em pleno
domingo assistindo ao meu programa de esportes favorito quando um
barulho vindo da porta da sacada me chamou a atenção. Resolvi
conferir o que era e acabei me deparando com uma Libélula que havia
entrado no apartamento, porém não conseguia encontrar o local da
saída.
Penalizado com a
situação, resolvi auxiliar o inseto para que encontrasse o caminho
por onde havia entrado e por fim a sua liberdade. Puxei a cortina
oferecendo mais espaço, mas para a minha surpresa a Libélula se
complicou e acabou entrando atrás do vidro onde ficou presa.
Desesperada para sair daquele local e batendo as asas freneticamente
a Libélula acabou por descer até a parte de alumínio onde o vidro é
fixado, ficando mais presa ainda.
A minha atitude de
imediato foi
buscar alguma ferramenta para ajudar a Libélula a se livrar da
confusão em que tinha se metido e o meu primeiro pensamento foi usar
uma régua, pois era fina e podia perfeitamente entrar pelo vão da
porta de vidro e suspender a Libélula até o local onde ela pudesse
sair. Fui até o quarto, peguei uma régua e iniciei a minha primeira
tentativa de livrar a Libélula. No começo pareceu funcionar, pois a
Libélula já cansada subiu na régua e foi fácil conduzi-la até uma
altura que fosse suficiente para resgatá-la. Assim que foi possível,
puxei a porta para trazer a Libélula para mais perto da saída, mas
infelizmente a Libélula recuperou as suas forças e começou a bater
as asas e caiu no pior lugar onde ela não poderia ficar que era a
parte estreita de alumínio que dá sustentação as lâminas de vidros
da porta. Decepcionado, pensei em remover a porta, mas uma rápida
olhada me fez descartar imediatamente a idéia, primeiro porque não
havia tempo, segundo porque era impossível mesmo, aí pensei: “Tenho
que improvisar”.
Comecei a me
preocupar porque apesar de ser um simples inseto, eu não gostaria
que ele morresse naquele local sabendo que eu poderia ajudá-lo.
Pensei rapidamente e me lembrei que eu havia guardado um arame o
qual utilizo para desentupir canos. Imediatamente fui até a
despensa, desenrolei o arame, peguei um alicate e cortei um pedaço
que fosse suficiente para alcançar a Libélula. Ao cortar o arame, a
ponta ficou afiada e perigosamente cortante, então pensei que se
usasse aquele pedaço de arame do jeito que estava, poderia machucar
a Libélula no momento em que estivesse fazendo o resgate. Voltei ao
quarto, peguei uma fita durex e isolei a extremidade do arame que
iria ter contato direto com a Libélula, diminuindo assim o risco de
feri-la.
Minha esposa quando
viu em minhas mãos a rústica ferramenta, disse que eu iria
estraçalhar a Libélula no momento que estivesse puxando-a para a
saída. Isso realmente poderia acontecer, mas não havia tempo, pois
quanto mais o inseto se debatia, mais ele corria o risco de perder
uma das asas, aí, mesmo que eu conseguisse obter sucesso no resgate,
de nada iria adiantar porque a Libélula não poderia mais voar.
Então peguei o
arame, me posicionei de uma forma que pudesse vê-la e iniciei a
operação suspendendo a Libélula com o maior cuidado possível, ao
mesmo tempo em que isolava com o arame o local onde ela havia caído
para impedir que caísse novamente e inviabilizasse o resgate.
O tempo corria
contra mim e comecei a temer pelo insucesso da operação, mas mesmo
que essa possibilidade pudesse existir, não desisti e continuei
acreditando que seria possível. Suando bastante e já com as pernas
doendo por me manter muito tempo na mesma posição, comecei enfim a
ter sucesso. O planejamento e as decisões que eu tinha tomado
rapidamente, foram fundamentais para o sucesso da operação e
começaram a surtir efeito, e depois de algumas tentativas,
finalmente consegui que o inseto se estabilizasse em um local de
mais fácil acesso. Após essa fase, pude utilizar a minha primeira
ferramenta que era a régua. Solicitei a ajuda de minha esposa para
que puxasse a porta o máximo possível para que a Libélula tivesse
mais espaço para se deslocar. E assim ocorreu: Primeiro a Libélula
liberou a cabeça, em seguida as asas e finalmente voou meio zonza
para fora da porta até a sacada, para em seguida se recuperar e alçar
o seu vôo rumo à liberdade.
Aquilo me deixou
feliz e orgulhoso, porque embora fosse um simples inseto, mereceu a
minha atenção e eu não podia de modo algum ficar passivo ao seu
sofrimento e nem tão pouco deixar de empreender uma tentativa de
livrá-la da armadilha que tinha se metido. Eu sempre fui fascinado
por elas e para quem não sabe, a Libélula é aquele inseto que parece
um helicóptero e me faz lembrar os meus tempos de criança
quando eu ficava tempo observando o comportamento delas e seus vôos
acrobáticos sobre as águas.
A história que eu
acabei de contar é verdadeira e mesmo que pareça banal e sem
importância, teve um significado para mim e me fez pensar qual a
lição que eu poderia tirar de tudo isso. O ensinamento que eu tirei
é que até as pequenas ações são importantes, porque precisamos delas
para promover ações maiores, por isso precisamos praticar as boas
ações em todos os momentos de nossas vidas, começando com a nossa família, depois com nossos vizinhos dizendo pelo menos um
bom dia, cedendo um lugar para um idoso, oferecendo uma preferência
no trânsito, respeitando as filas, procurando entender os nossos
colegas de trabalho e aceitar todas as diferenças
incondicionalmente.
A Segurança do
Trabalho como sabemos não permite improvisos e deve ser pautada
pelas leis, normas e portarias que regem o setor, mas a moral da
história aqui é outra - nós precisamos lançar mão de todas as
ferramentas possíveis para preservar a vida e não desistir jamais de
tentar, mesmo que algo pareça sem importância para uns, pode ter um
valor enorme para outras pessoas. Não são todos os dias que estamos
bem, mas se pensarmos positivamente desde as primeiras horas do dia
e promovermos pelo menos um dia de gentilezas, pode ter certeza que
teremos muito mais a comemorar do que para se arrepender no final de
um dia duro de trabalho. Quem sabe não há uma Libélula na sua
vida esperando por um gesto de boa vontade da sua parte.
PENSE NISSO!
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